Ah, a música. Esse item, aliás, sempre teve uma participação especial na vida dela. Ela aprendeu a gostar de Bon Jovi e Alanis Morissette quando ainda era um cotoco, aos cincos anos de idade. Seguiu ouvindo The Cranberries, R.E.M e mais toda uma herança musical que vinha do pai, da mãe, dos tios, dos primos mais velhos. Tudo isso aprimorado com as coisas novas que o bom filtro do seu ouvido separava das rádios. Ela e o walkman eram inseparáveis e o banheiro presenciou os melhores covers da história!
Mas, sempre foi difícil encontrar pessoas que davam importância para esse tipo de coisa. Muito antes do narrador de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain chegar a essa conclusão, ela já havia descoberto que eram “tempos difíceis para os sonhadores”. Por isso, criou mecanismos de defesa como ninguém e escolheu ser mais brother dos meninos, afinal, era muito mais interessante ficar na rua e falar palavrão, do que ouvir sobre esmaltes ou o que estava na moda naquela estação.
Então ela jogou bola, subiu em árvores, correu na rua, entrou num bate-cabeça, foi ao estádio de futebol, leu HQ’s, assistiu filmes de ação, foi a bares, aprendeu sobre carros, arrotos e cerveja e, aos poucos, foi se tornando uma peça única – dessas que a gente não sabe o valor que tem até um perito descobrir a raridade e querer para o antiquário. E aconteceu. Os anos passaram e ela viu os valores que a excluíam lá atrás se tornarem os mais procurados por todo mundo hoje.
De repente, todos falavam sobre mulheres independentes, que gostam de cerveja, que assistem futebol, que são parceiras dos homens. De repente, ser ela mesma virou a opção mais “cool” do que se podia ser. Porque enquanto tinha gente tentando mudar para se encaixar, ela simplesmente podia seguir sendo como sempre foi. Porque ela sempre soube que o modelo de menina-perfeita não tinha o seu número...só não imaginava que um dia fosse gostar tanto de não vesti-lo.