Era tarde, o pub estava cheio e ela já estava cansada de cantadas baratas quando ele apareceu. Mas ao invés de elogios superficiais, ele se ofereceu para pagar uma bebida pedindo que, em troca, ela pudesse conversar um pouco com ele. Parecia uma cilada vinda de um par de olhos claros, mas ele prometeu que a deixaria livre para ir embora no momento em que quisesse. Algum tempo depois, os dois estavam rindo sobre histórias da vida e ela havia notado que a cada vez em que sorria, ele parecia vidrado. Lembrou da infinidade de vezes em que ela ouviu homens-ventríloquo dizerem "você tem um sorriso bonito", apenas numa tentativa de se aproximar dos lábios dela. Mas ele não.
4 MESES DE IRLANDA
E como foi difícil começar aqui. Mil e um perrengues impensáveis, choque cultural, dificuldade no sotaque, disputa surreal por casa, empregos escassos, comida sem gosto, dias cinzentos que terminavam às 4 da tarde, vontade de ir embora. Dia a dia eu vivia um misto de sentimentos que variavam enlouquecidamente entre o quero ou não ficar em Dublin. Mas, sem eu perceber, cada momento bom virava uma semente. Sem eu perceber, cada sorriso verdadeiro fazia saltar raízes minhas, que iam se amarrando em vários pontos da ilha esmeralda. Quando me dei conta, já havia um pouco da Agatha de sempre em tudo o que existia por aqui. A Irlanda tinha virado, de fato, a minha nova casa.
Quatro meses se passaram e muita, muita coisa aconteceu. Dentro e fora de mim. Vi paisagens de tirar o fôlego, me encontrei com a tão sonhada neve, bebi as melhores cervejas do mundo e conheci pessoas incríveis que vou levar pra vida toda. Mas também senti medo inúmeras vezes, convivi com decepções em série, vi promessas serem quebradas e tive que deletar projetos e pessoas da vida pra poder seguir em frente. Mesmo assim, em todas essas experiências, tive uma série de encontros legítimos comigo mesma. Ensinamentos extremos e perdas e ganhos imensuráveis fizeram eu descobrir uma força que nem eu achei que eu tinha. Hoje dá pra dizer que eu tô honrando o meu signo...hoje eu sou mesmo um leão.
E tudo isso junto mudou o tipo do aperto no peito, é claro. Se antes eu tinha dúvidas sobre querer ficar, hoje a angústia é por estar cada vez mais próximo da volta. Porque se tivesse como resumir esse intercâmbio e a mudança de rumo louca que a vida da gente dá, eu poderia comparar com estar vivendo em um parque de diversões. Tem brinquedo que leva a gente pro alto, tem brinquedo que é uma grande queda, tem brinquedo que machuca ou que assusta, tem brinquedo que faz gritar e tem brinquedo que dá um prazer tão foda que nunca nem imaginamos que fôssemos viver algo do tipo...E é essa mistura de todas as sensações, do frio na barriga à felicidade, que faz tudo valer a pena. Sempre.
"Now I'll be bold, as well as strong...Use my head alongside my heart" / "Agora eu serei corajoso, assim como forte...Usarei minha cabeça junto com o coração"
(Mumford & Sons - I Will Wait)
LAST TIME
"I'm not gonna get involved with anyone anymore", she said. She stared at her own reflection in the mirror, trying to believe those words. How many times had she promised herself that it was the last time? She started to laugh. There was always new people out there, new stories, new experiences. No matter how cold her heart could get or how thick her armour would be. Sooner or later, she knew, a smile would tell her what was about to come. And before she could even notice, a kiss would bring a special message to her rational self: it's worth the risk. One last time.
ÚLTIMA VEZ
Não vou mais me envolver, ela disse. Olhava o reflexo no espelho, tentando acreditar naquelas palavras. Quantas vezes já havia prometido para si mesma que era a última vez? Começou a rir. Sempre surgiam novas pessoas, novas histórias. Não importava o quanto endurecesse seu coração ou o quão grossa fosse a armadura. Mais cedo ou mais tarde, ela sabia, aquele sorriso avisaria o que estava por vir. E quando menos percebesse, um beijo traria um recado especialmente para a razão: vale o risco. De novo.
ELA
Ela te via além da sua casca.
Ela te enxergava lentamente, enquanto todos sempre te viam rápido demais.
Ela te assistia dormir.
Ela te dava amor ao acordar.
Ela te fazia cafuné.
Ela te beijava a testa com ternura, mas também te arrancava o fôlego quando queria.
Ela te roubava beijos, até mesmo enquanto você dormia.
Ela cozinhava para você.
Ela gostava de te ter como assistente na cozinha.
Ela te fazia rir com bobagens e se iluminava quando era você quem a fazia dar risada.
Ela te fazia ver a vida com outros olhos.
Ela te fazia ver que o amor podia valer a pena.
Ela tinha a mania de rir de tudo e era no sorriso dela que você encontrava forças.
Ela não mascarava os próprios defeitos e aceitava os seus.
Ela não precisava de maquiagem para ser linda, mas te encantava com aquele batom.
Ela tinha o gosto musical parecido com o seu.
Ela gostava de vestir suas camisetas.
Ela gostava de cerveja e bebia com você.
Ela te fazia se sentir especial e amado de um jeito que ninguém tinha sido capaz.
Ela te entendia e te ajudava em qualquer coisa.
Ela era sua parceria e melhor amiga.
Ela se dava bem com a sua família, do tipo dançar com a sua mãe no meio da sala.
Ela era seu conforto nos dias difíceis.
Ela te fazia esquecer os problemas com um olhar.
Ela te acalmava num abraço.
Ela cuidava de você como sempre quis ser cuidada.
Ela se espremia para te dar mais espaço na cama ou embaixo do guarda-chuva.
Ela só dormia tranquila depois de saber que você já estava a salvo em casa.
Ela sussurrava ao teu ouvido.
Ela tinha o apetite sexual que todos os caras sonhavam em encontrar.
Ela apertava sua bunda de vez em quando só pra ver a sua cara.
Ela era o seu melhor sorriso numa manhã preguiçosa.
Ela te mostrava que seu mundo era melhor desde que ela resolveu entrar.
Ela se entregava de corpo e alma para você.
Ela era a mulher da sua vida.
Mas você a perdeu.
ELES
Eles tinham tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. Eles não só se gostavam, como também eram melhores amigos. Eles se divertiam com pouco. Eles davam risadas juntos. Eles achavam que estar ao lado do outro era o suficiente para levantar qualquer programação chata. Eles podiam ser eles mesmos o tempo todo. Eles tinham uma loucura compartilhada e achavam que só eles podiam se entender. Eles conversavam muito e sobre tudo. Eles admiravam um ao outro e sentiam orgulho das conquistas de cada um. Eles gostavam da família um do outro. Eles gostavam de sair com os amigos um do outro. Eles cozinhavam juntos. Eles assistiam filmes juntos. Eles bebiam cerveja juntos. Eles tomavam café da manhã vendo videoclipes e cantando. Eles trocavam músicas entre si e tinham uma playlist só deles.
INSOMNIA
She couldn't sleep. The room was dead silent, but her heart was screaming. Screaming with longing. Screaming to get out of there. Her mind, syncing with that pain, brought a series of memories, showing where she wanted to be. It asked for Sunday mornings, unmade beds, and his body to cuddle with. It asked for kisses, his smell, the eyes she never grew tired of looking at, the hug that felt like home. It asked for him.
INSÔNIA
MENINA-PERFEITA
Ah, a música. Esse item, aliás, sempre teve uma participação especial na vida dela. Ela aprendeu a gostar de Bon Jovi e Alanis Morissette quando ainda era um cotoco, aos cincos anos de idade. Seguiu ouvindo The Cranberries, R.E.M e mais toda uma herança musical que vinha do pai, da mãe, dos tios, dos primos mais velhos. Tudo isso aprimorado com as coisas novas que o bom filtro do seu ouvido separava das rádios. Ela e o walkman eram inseparáveis e o banheiro presenciou os melhores covers da história!
SAUDADE
Sentir saudade de quem se ama é um bicho que consome. Que vai crescendo dentro do peito sem você perceber. Dia a dia ele toma espaço, se desenvolvendo conforme aumentam as milhas entre um coração e outro. Implanta lembranças e te faz reviver momentos em qualquer lugar, em que tudo o que você vive parece ter uma ligação com quem você queria estar. Até que você sente que esse sentimento já está presente em cada pedaço seu. Até que você ouve seu corpo inteiro gritar a falta que a outra pessoa faz.
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